Fez um ano que eu conheci São Paulo. De todas as coisas que eu gostaria de dizer sobre isso,
Fez um ano que eu conheci São Paulo. De todas as coisas que eu gostaria de dizer sobre isso, consegui apenas reunir forças para falar: São Paulo tem a capacidade aterradora de te transformar em apenas mais um. Não que você de fato se transforme, apenas se perceba melhor assim. Quando você convive com 11 milhões de pessoas, acaba descobrindo que não é nada, principalmente se a amostra que te cerca diariamente é formada por gente interessante, bem informada e acentuadamente mais a frente no caminho para uma vida bem sucedida do que você.São Paulo é, ironicamente, uma cidade que pouco te julga, mas que conduz a sua capacidade de autojulgamento a um nível muito mais elevado do que você jamais pensou ser possível.Quando entrei aqui, achei que ampliaria a minha expressão, o meu conhecimento, a minha experiência e tanto mais. E foi isso mesmo o que aconteceu. Mas São Paulo nem sempre me entende muito bem. Numa cidade sem “resenha”, “prosa ruim”, “ousadia”, “abuso” ou “enfuca”, às vezes eu me sinto completamente sem palavras… Ou completamente incompreendida. Assim como de vez em quando não entendo as coisas também.É estranho vir morar em um lugar em que o seu gentílico é um xingamento. Mas, ironicamente, sair do meu Estado me tornou ainda mais baiana – e ainda mais orgulhosa de sê-lo, mesmo que nem haja muito sentido para que qualquer um de qualquer Estado se sinta assim. Talvez seja apenas prazeroso se apegar a pequenos lapsos de identidade em uma terra em que ninguém sabe quem você é, qual sua história ou como era a sua realidade.Tem coisas que você só vai acreditar quando estiver aqui: é uma cidade que fede (assim como sua chuva também), sufoca (meus pulmões e minha garganta demoraram para se acostumar), mas te liberta. São Paulo é a mistura do mundo. Te desprende, te joga no meio de tudo e diz pra ir. Te ensina que você pode muito, e te faz se perguntar o que é mesmo que te diferencia de todo mundo que chegou ao topo. São Paulo é um tapa na cara, um puxão de orelha, é o professor que te chama a atenção. A Bahia é a mãe que me consola.Às vezes eu penso te deixar, SP. Só que ser ninguém às vezes faz tão mal pro coração, mas tão bem para o futuro… -- source link
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