- - Adélia Prado.POEMA ESQUISITO Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.Não é hábito. É rarissimamen
- - Adélia Prado.POEMA ESQUISITO Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.Ninguém tem culpa.Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,não existe mais o modode eles terem seus olhos sobre mim.Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?É dentro de mim que eles estão.Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,que abunda nos cemitérios.Quem plantou foi o vento, a água da chuva.Quem vai matar é o sol.Passou finados não fui lá, aniversário também não.Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?É de tanto lembrá-los que eu não vou.Ôôôô paiÔôôô mãeDentro de mim eles respondemtenazes e duros,porque o zelo do espírito é sem meiguices:Ôôôôi fia.BILHETE DA OUSADA DONZELA Jonathan,há nazistas desconfiados.Põe aquela sua camisa que eu detesto- comprada no Bazar Marrocos -e venha como se fosse pra consertar meu chuveiro.Aproveita na terça que meu pai vai com minha mãevisitar tia Quita no Lajeado.Se mudarem de idéia, mando novo bilhete.Venha sem guarda-chuva - mesmo se estiver chovendo -Não agüento mais tio Emílio que sabe e finge não saberque te namoro escondido e vive te pondo apelidos.O que você disse outro dia na festa dos pecuaristasaté hoje soa igual música tocando no meu ouvido:“Não paro de pensar em você.”Eu também, Natinho, nem um minuto.Na terça, às duas da tarde,hora em que se o mundo acabar eu nem vejo.Com aflição,Antônia. -- source link