A Sibila - Augustina Bessa LuisA Leitura sempre foi uma segunda pele, que marcou a minha infân
A Sibila - Augustina Bessa LuisA Leitura sempre foi uma segunda pele, que marcou a minha infância e juventude e ditou a minha escolha profissional. Escrevo este texto no meu local de trabalho que é exatamente uma Biblioteca. Sempre me rodeei de livros, são o meu habitat natural. Gosto de folheá-los, de organizá-los, partilhá-los, conversar em torno deles.A escolha do livro para o projeto não foi imediata. Gosto quando a Literatura capta a vida nos seus traços mais estruturantes e reconstrói o fio que a conduz entre personagens, peças em ação no espaço e tempo que habitam. A memória devolveu-me alguns títulos, mas A Sibila “chamou-me” para um novo encontro. Li-o há muitos anos na escola, e a figura da protagonista inaugurou uma galeria de personagens femininas fortes, marcantes, clarividentes, sibilas, portanto. Sinto-me atraída pela energia feminina, pela perspetiva que muda o ritmo e a pulsação da narrativa. As histórias marcadas pela perspetiva feminina são mais intuitivas, mais ligadas a uma matriz essencial que me toca profundamente. Despertam as minhas filiações pagãs, devolvem-me a vivência da deusa –mãe, Gaia, Cale, ou outros nomes que assumiu, e renovam os meus laços com essa herança telúrica.A Sibila é um romance de Agustina Bessa-Luís, publicado em 1954 e remete para as figuras clássicas das sibilas, como a de Delfos, a mais célebre de todas. O universo de Agustina regressa às suas origens familiares de Entre Douro e Minho, herdeiro de um saber natural, matriz da relação do Homem com a terra, com o tempo e com a espiritualidade. Quina, a Sibila da Casa da Vessada, constrói a sua ascendência paciente e laboriosamente, entre familiares, vizinhos, pretendentes e relações que estabelece por interesse de senhora da terra. Liberta dos grilhões sociais que a sua condição de mulher lhe impusera, Quina reinventa o seu papel como mulher, cujo perfil transcende a educação feminina. É uma mulher do seu tempo, que cumpre com energia e zelo os seus afazeres, mas é, simultaneamente, uma mulher sem tempo, um ser humano que rompe estereótipos e surge como guardiã da sabedoria ancestral, que religa (étimo de religião) o Ser à sua Essência.Escolhi ou fui escolhida? Sigo a intuição. Esta é a minha matriz mais inteira que a literatura ajuda a descodificar. A Sibila está em todas nós.————–Reading has always been like second skin and defined both my childhood and youth and my future career. As I write this, I look around and there are thousands of books waiting to be read and opened up. I teach literature and I’m also a librarian. Books are my natural habitat. I love to read and talk about a book, that’s why I couldn’t pick only one.I love when literature mimes life by picturing characters in their context, like actors in a play.I remember some good readings from the past, yet A Sibila (The Sybil) asked me on a second date.I read it many years ago. Quina, the leading character, was the first name in a list of strong female characters with divinatory powers, real sybils.I feel attracted to the energy that comes out from this feminine literary perspective which awakens the pagan in me, the goddess I believe was the primitive Mother Nature, Gaia or Cale, one of her many names.The book written in 1954 by Agustina Bessa Luís shows Quina as a rural landlady, defying social conventions by overcoming her female role and leading everyone near her, family, neighbours, admirers and financial partners. She is, nevertheless, a timeless woman, an ancient wisdom keeper, who bonds each one of us with her essence.Did I pick the book or was I picked? I followed my intuition. This is my portrait of a woman disclosed by this book. The Sybil lays in each one of us. Cristina Basílio - 15 de Setembro de 2016 -- source link
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