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Quando escrevo, eu me abocanho todo. Não me acanho. Mordo o dorso das mãos sem dó. Mordisco a parte da frente — bem onde ficam as linhas do meu destino. Mastigo todos os dias o meu próprio futuro, sem perceber. É um gesto automático. Meu corpo aceitou essa tarefa como sendo um processo orgânico. É como abrir as pálpebras logo pela manhã. É parecido com tomar um café após o almoço. É feito contabilizar ovelhas para tentar vencer a insônia. Já faz parte de mim.Sou assassino dessa minha sina? Arranquei — com unhas e dentes — toda e qualquer previsão sobre meu possível amanhã. E é melhor assim. Que graça teria iniciar novas histórias se soubéssemos o jeito que elas terminam? Eu nunca comecei um livro pelo ponto final. Sempre preferi seguir adiante sem contar com os encontros predestinados, as oportunidades pré-agendadas, as tramas já traçadas, os traumas devidamente roteirizados. A vida precisa dessa dose diária de desconhecido.Tenho tatuagens produzidas pelos meus caninos; tinta-sangue. Crio marcas espalhadas pelo meu braço que impressionam os olhares alheios. Guardar rancor deixa visíveis sequelas. Só quem está na própria pele pode entender essas pequenas e rotineiras cicatrizes (meus silêncios?). São meus vulcões — convulsões de ideias não realizadas, de palavras não extravasadas. Aquelas que ficam atravessadas na garganta, sabe? Prontas para entrar em erupção a qualquer momento.Agora sou um Vesúvio em miniatura.———-Texto: Mãos Silenciadas; parte 5/7, de PEDRO GABRIEL. -- source link
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