Não sei se mereço essas mãos. Mantenho-as o tempo todo fechadas como se fossem
Não sei se mereço essas mãos. Mantenho-as o tempo todo fechadas como se fossem as mais cruéis adversárias dos meus versos. Escondo-as como se elas se assumissem, por alguns instantes, inimigas desta minha forma tão íntima e tímida de expressão — a escrita. Permaneço — o máximo possível — não dando a mínima para essas duas extremidades móveis, recolhidas em mim.Carrego esse par de fuga desde que nasci. Medo de ir ou falta de coragem para fincar de vez meus pés em algum lugar? Deve haver um pequeno barco que navega solitário entre meus braços desamparados (estou nele?). Quando ele atraca na garganta, pode-se ouvir uma lágrima angustiada bem na margem do meu rosto. Meu dedo agora se torna um pequeno limpador de para-brisa. Ele desfaz a dor; ela se entorna, fugaz.Toda poesia é litoral de um sentimento interior.Escrever, ainda que desconfortável, é o espaço onde encontro conforto para ampliar o volume de cada grito silenciado. O escrito é tudo, menos um ato inaudito. Ouve-se a caneta. Escuta-se o estalo dos dedos. Capta-se o som do virar das páginas — esse ruído insistente que, de tão presente, se faz ausente. É como morar perto da avenida principal de uma grande cidade. A gente até se acostuma com a ansiedade. A gente até transforma em hábito todo esse caos sonoro. Mas ele não vai embora — nunca! E a gente então, como forma de aliviar os tímpanos, começa a chamar esse caos de cais. E a gente então se engana — sempre! E a gente então finge que está tudo bem, que tudo está quieto… Que tudo é um imensosilêncio.———-Texto: Mãos Silenciadas; parte 2/7, de @pedrogabrielautor -- source link
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